sábado, 5 de abril de 2014

Uma última nota


O vazio do porta retrato lembra-me de coisas que eu queria esquecer. Coisas boas.
Pode parecer estranho. Por que esquecer coisas boas?
Porque a partir delas, vejo as ruins. Um quebra-cabeça que não se encaixava por completo, deixava espaços, expectativas. 
E se a imagem não se forma, qual é o sentido de existir? Ver o que falta e saber que nunca haverá completude. Só espaço. Só distância.

A dor, que parece sem motivo, na verdade carrega consigo todos os motivos do mundo, mas há um que se destaca. Não é possível estar, sem querer. Se está, sem querer, na verdade não está. Não vive. Não sente. Não se doa. E eu não queria.
A distância entre os nossos mundos não era saudável. Causava incompreensão, sofrimento, mágoa, angústia, dúvida. Era uma distância sem possibilidade de encontro.

Foi sem jeito. Foi sem tato. Perdoe-me por isso.
Mas eu não conseguia mais.

Não conseguia atropelar meus princípios. Não conseguia aceitar seu jeito. Sei que tudo isso não faz sentido pra você, mas espero, de coração, que um dia faça. Que você entenda que continuar seria pior. Seria um sofrimento calado, que carrega consigo o vazio e a tristeza de ser impossível recuperar o que um dia se foi tão sorrateiramente.
Minha dor não é por mim. É por você. Por imaginar a sua, de mãos atadas. Saber que causei isso em quem sempre me quis tão bem. Quem me amou de toda sua alma, se sacrificou por mim.
Não te peço nada. Que me compreenda, que seja meu amigo, que consiga ver o meu lado da moeda.
Ficaria imensamente feliz se isso acontecesse. Mas isso é com você. O que você sentir que deve fazer.

Do fundo do meu coração, te desejo toda a felicidade do mundo. Que você fique bem, principalmente consigo mesmo. Que encontre alguém com as peças do seu quebra-cabeça e que ela te faça o bem que eu não consegui fazer. Que você tenha a resiliência que precisa para curar todas as suas feridas, e nelas encontrar motivos pra continuar, pra crescer, pra viver. 
Que você consiga ver o lado bom das coisas.

Um beijo.

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