terça-feira, 24 de maio de 2016

Aquarela



Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo.
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva,
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva.

Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel,
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu.
Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul,
Vou com ela, viajando, Havai, Pequim ou Istambul.
Pinto um barco a vela branco, navegando, é tanto céu e mar num beijo azul.

Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená.
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar.
Basta imaginar e ele está partindo, sereno, indo,
E se a gente quiser ele vai pousar.

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida.
De uma América a outra consigo passar num segundo,
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo.

Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente, a esperar pela gente, o futuro está.
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar,
Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar.
Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar.

Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá.
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar.
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá.


Toquinho

Eu... o outro



Quem sou eu?
Quem é você?

Já se fez essa pergunta?

Ao longo dos anos, muitos tentaram responder tal questionamento. Alguns passearam pela vertente biológica, outros pela social, religiosa, científica... Sem consenso, não abarcaram a totalidade que é o ser humano. Espero que, algum dia, falem a mesma língua e consigam preencher uma lacuna há tanto tempo aberta. Enquanto isso, busco minhas próprias respostas.

Apesar de ser única em função da configuração obtida a partir das minhas características biológicas, aliadas às sociais e no contexto histórico no qual nasci, não posso dizer que aí me delimito.

Ainda que haja um "padrão" constante e previsível (cor dos olhos, tipo de corpo, características comportamentais, ideologias...), estou sempre em mudança, graças ao contato que estabeleço com cada outro que cruza meu caminho.

É nesse contato que me construo, desconstruo, aprendo, ensino e tenho a oportunidade de me fazer nova, ainda que só pra mim mesma.

Isso é fascinante!

Posso me deslumbrar em cada conversa, ainda que despretensiosa.
Posso amar cada gesto, cada ideia, e odiá-los também.
Posso maravilhar-me com coisas que só fazem sentido pra mim.
Posso sentir ciúmes, frio na barriga, medo, tristeza, felicidade.

Em cada sentir, sinto a vida!

Acredito que a estabilidade que sempre se buscou ao definir o humano está, paradoxalmente, na imprevisibilidade.

É na surpresa, na descoberta, nas contradições que nos fazemos humanos e capazes de crescer e transformar. Isso acontece quando me vejo diante de um outro, que traz consigo suas próprias inquietudes e formas de enxergar o mundo, suas similaridades e diferenças.

É no encontro com o outro que sei quem sou.
Com cada outro.
Em cada encontro.
E isso é lindo.