quarta-feira, 13 de março de 2013

Uma história de ponto de ônibus


Era uma tarde ensolarada de março. Os compromissos saltavam pela janela como água em cachoeira e por mais que quisesse aproveitar a paz do quarto, a rua lhe chamava. Saiu e caminhou os dois quarteirões até o ponto de ônibus. Avenida movimentada. Gente apressada. Calor. E um senhorzinho simpático que lá aguardava por sua condução.
- Faz tempo que o senhor tá esperando?
- Não... Uns cinco minutos só. Esses aqui demoram demais. 
Dizia ter 16 anos, já que somando os dois oitos de sua idade, chegava a esse número. Eu suspeito que sua vitalidade era realmente de um garoto. A conversa começou tímida e aos poucos foi caminhando por lugares distantes, momentos históricos, lembranças particulares. O tempo vai passando e ninguém percebe. Ouvidos atentos escutam nosso papear, mas não ousam se desvelar conosco. Bom seria se tivessem feito isso.
Descobri que passamos por caminhos próximos nessas terras de meu Deus. Mas ele viu mais. Viu uma cidade ser construída, amores partirem, um mundo se transformar. Só não deixou sua gentileza lhe escapar nesses 88 anos vividos. O cavalheiro que estende a mão para que as damas entrem primeiro está ali, encurvado, enrugado, educado. Permanece de pé aguardando seu coletivo. Permanece de pé na vida.
O ônibus chega e ele se senta pertinho da porta. Vai descer três pontos depois, não precisa passar pela catraca.
- Tem lugar lá no fundo, vou me sentar. Foi um prazer conhecer o senhor.
- Foi um prazer pra mim também.
Um aperto de mão, dois sorrisos e os olhos verdes que eu jamais vou me esquecer.
Obrigada, meu amigo de ponto de ônibus!

2 comentários:

Unknown disse...

Nossa Mabia, adorei a historia. Obrigado por dividir com agente.Imagina como seria se colocassemos todas as indiferenças, inseguranças e juizos de valor de lado nas nossas relaçoes.

Mábia disse...

Obrigada!
Foi realmente algo que mexeu comigo e me senti na obrigação de dividir com outras pessoas.
É aos poucos que vamos nos afastando dos nossos preconceitos, nas pequenas coisas nos aproximamos do outro, do desconhecido invisível.

É um pontapé inicial! Leve a ideia com você!